sábado, 8 de maio de 2010

Crónica - Gaspar

Olá , sou o Gaspar e vou contar uma história verídica.

Como todos sabem eu era radiotelegrafista da CCS e já estávamos sediados na cidade do Luso (Leste de Angola) quando um dia fui enviado pelo nosso comando numa missão a Teixeira de Sousa. Levava como bagagem um saco de correio para cada companhia (3) e uma pasta com documentos classificados (confidenciais) que não podiam ser transmitidos por via rádio.

Eu fiquei até todo contente pois quase nunca saía da área do meu quartel e ir até Teixeira de Sousa, era para mim um belo passeio. Porém recebi da secretaria da minha companhia um bilhete do comboio de 4ª classe e aí é que começou o problema.

Quando entrei na carruagem de 4ª classe não havia nenhum branco, só negros e alguns com cara de poucos amigos. Aí eu comecei a ficar aflito com a minha situação (embora levasse comigo uma “amiga” chamada WALTER). Então veio o revisor que me levou para a 3ª classe mas também não havia nenhum branco só negros e eu mesmo assim continuei aflito e dizia para os meus botões eles vão-me roubar os sacos do correio e os documentos .

O revisor disse que ficava melhor ali mas eu não conseguia ver nenhuma diferença e lá cheguei ao Lumeje sem incidentes.

Aí no Lumeje saí do comboio e entreguei o correio á companhia que lá estava estacionada e apareceu-me um Alferes do nosso batalhão que me perguntou o que estava alí a fazer. Expliquei-lhe qual era a minha missão e até o receio que estava a ter.

Hoje passados estes anos todos eu não me consigo lembrar qual foi o Alferes que me levou para a carruagem de 1ª onde viajei até Teixeira de Sousa na companhia dele e só me lembro do fabuloso pequeno almoço estilo inglês que ele me pagou no comboio.

Hoje gostava de me lembrar quem foi este Alferes para lhe dar um grande abraço.

Joaquim Gaspar Silva

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