Ólá, eu sou o Peniche fiz parte do Batalhão de Cavalaria 1883-CCS e estou aqui para lhes contar 2 histórias que guardo dos tempos de Quicabo.
Tal como o Gaspar eu também fiz parte do pelotão de transmisssôes da CCS exercendo nos postos de rádio as funçôes de rádio-telefonista, mas como também havia trabalho no exterior às vezes também saíamos rodando em escala e as recordaçôes que vos contar aconteceram precisamente num desses exteriores.
Em julho de 1966 houve uma operação com as nossas companhias para os lados dos Quejimes onde eu fui escalado para ir para um P. I. que era um acampamento intermédio onde nós montávamos um posto de rádio para ficarmos em contacto via rádio com as companhias e com o aquartelamento em Quicabo, foi também para nos dar proteção o Pelotão de Morteiros 1022 que estava connosco em Quicabo, como eram um bocado mais velhos que nós em Angola já tinham outra experiência, já tinham ido aquela zona noutras ocasiôes e eles diziam que íamos ser atacados pelo caminho o que me metia um certo receio pois era a primeira vez que eu saía para o mato.
O que é certo é que fomos e de turras nada, montamos os rádios as antenas, o pessoal do Pelotão de Morteiros preparou a defesa do acampamento, começá-mos a trabalhar e tudo corria bem nesse dia 19 de julho de 1966. Ouvimos a Seleção Portuguesa ganhar ao Brasil de Pélé por 3-1 o que era um feito para nós Portugueses. Só que mal tivemos tempo para saborear o resultado. Começou-se- a ouvir tiros de vários lados os turras tinham fugido ás companhias que os tinham ido procurar e tinham-nos vindo atacar a nós. Só me apercebi bem do que aquilo era quando vi todos os colegas a correr para os abrigos o que fiz também. Lembro-me de ouvir o Alferes que comandava o Pelotão de Morteiros nos mandar não responder ao fogo deles e ordenar ao apontador de morteiros para lançar 3 morteiradas em 3 direçôes diferentes com o que pôs os turras em debandada chamando-nos muitos nomes feios e que fôssemos para o Puto que Angola era deles. Aí eles tinham razão pois tudo isto deveria ter sido evitado. Esta é uma recordação porque foi a única vez que eu ouvi tiros em Angola. Tive mais sorte do que muitos dos meus camaradas especialmente os das companhias operacionais. Por isso eu nunca esquecerei este dia, assim como não esquecerei que isto aconteceu no dia em que Portugal bateu o Brasil de Pélé eliminando-o da fase final.
Agora vou contar outro episódeo também passado comigo em Quicabo. Quando chegou o Batalhão para nos render fui um dos escolhidos para andar com os operadores deles para lhes explicar o funcionamento das coisas. Ora acontece que no penúltimo dia da nossa estadia em Quicabo fui escolhido para ir em coluna à Fazenda Maria Fernanda com um pelotão só deles. Toda a gente dizia que os turras iam atacar os maçaricos e eu metido naquelas andanças ia pior que estragado. Mas tinha que ser lá fui e chegado ao pé do Alferes que ia comandar a coluna disse-lhe que ia montar o rádio no gipe que geralmente ia no meio da coluna. Qual não foi o meu espanto quando ele me disse que queria o rádio montado na berliet que ia na frente da coluna.Aí eu disse-lhe que lhe montava lá o rádio mas que eu não ia lá ao que ele me respondeu que só queria que eu lhe montasse lá o rádio e que depois viesse para o meio ou para trás da coluna para onde eu quisesse que eu não lhe fazia falta nenhuma lá à frente.Era oque eu queria ouvir fui e vim sempre na viatura de trás, não sei se ele conseguiu trabalhar ou não com o rádio, só sei que fomos e viemos e não fomos atacados. Ainda hoje às vezes penso que ele era capaz de não ser nada maçarico e que aquilo terá sido uma jogada estratégica. Jamais saberei o porquê desta decisão para mim estranha, mas o que eu queria era chegar a Quicabo são e salvo foi o que aconteceu fica a recordação.
Bem espero com isto contribuir para ajudar a fazer um blog maior. Que seja um incentivo para outros camaradas com coisas muito mais bonitas do que estas para contar e que eu amanhã ao abrir o blog as possa ver aqui descritas. Tal como hoje vejo as recordações tão vividas e tão sentidas do nosso amigo Senhor Coronel João Sena. Os meus agradecimentos ao Alberto David e a todos os que têm trabalhado para por de pé e cada vez melhor este blog. Os meus agradecimentos aos actuais e antigos elementos da comissão, pelo que trabalham e têm trabalhado para que se continuem a organizar os convíveos. Não querendo individualizar, queria aqui destacar o colega Fonseca por todo o seu trabalho e empenho durante anos na organização dos mesmos .
Para todos um grande abraço.
Jacinto Eduardo da Conceição Borges
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