24 de Dezembro de 1966.
Os dois capitães vão sentados numa Berliet, de regresso a Quicabo.
– Nunca mais chegamos!
– Com as últimas chuvadas esta merda está intransitável.
– Se calhar temos de passar a noite aqui na picada...
– Não é natural. Logo que passemos a Baixa das Bananeiras, isto andará mais depressa.
– Se os “turras” se lembram de fazer uma emboscada...
– Não me parece. Têm o papo cheio! A coluna é demasiadamente grande. Só se forem flagelações, mas à distância.
– Foi uma pena que a operação não resultasse!
– Pois foi.
– Você esteve quase no objectivo. Se ao menos tivesse queimado as cubatas, isto tinha sido um brilharete! Assim...
– Quer dizer, o sucesso da operação era queimar cubatas!?
– Não é isso que estou a dizer. Se tivesse queimado as cubatas, podia-se fazer um relatório bem diferente. Você até podia, pessoalmente, ter dado a volta àquilo.
– Essa volta de que está a falar, custaria mais uns quantos mortos e feridos. Eles estavam lá em força, como se viu!
– Por favor... são uns porcos terroristas. Isto tudo foi uma merda. Aqueles tipos da Força Aérea, tanto prometeram e faltaram! Que não tinham tecto ou a puta qu' os pariu!
– Mas era certo. Nesta época do ano, de madrugada não há tecto para jactos. O cacimbo leva muito tempo a levantar.
– Olhe, quer que lhe diga? Tudo isto foi a teimosia do comandante. Quis à viva força fazer a operação, e agora aqui tem os resultados. Sabe que mais? Agora o que me interessa é chegar a Quicabo e ver se ele me deixa ir passar uns dias a casa com a família, agora pelo Natal. O resto que se foda!
A coluna auto, ronceiramente, segue o seu caminho.
Chegou-se a Quicabo a tempo de tomar banho, fazer a consoada, comer o bacalhau e ir ao teatro que o capelão tinha esmeradamente organizado.
O “rancho,” foram as celebérrimas batatas com bacalhau. Estavam frias e o bacalhau estava muito mais salgado.
Tinha lágrimas a mais...
Como era noite de Consoada, todos comeram fraternalmente no mesmo refeitório. Não havia apetite. Havia, e com fartura, muitas bebedeiras.
Não houve Feliz Natal.
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