Apesar das minhas muitas contradições, dos mais variados aspectos, entrar no Santuário de Fátima nunca me foi indiferente. Muito para além do místico e do sagrado que ali sinto, é a fé dos simples, a esperança dos deserdados ou desiludidos, o que me arrepia e comove.Tenho pena que a minha espiritualidade seja um pouco de trazer por casa, não obstante a educação exemplar que me foi dada.Desta vez ainda foi mais forte o sentimento e a comoção!
No passado domingo, dia 18 de Maio de 2008, voltávamos, quarenta anos depois de ter regressado da Guerra em Angola, para agradecer à Santa Virgem Maria a graça de termos vindo e, também, pedir misericórdia e refrigério para as almas dos nossos do BCAV 1883, que lá, no Altar da Pátria, imolaram a juventude e a própria vida.Viemos para rezar, também, por aqueles que nos foram deixando ao longo destes anos e hoje mais não são do que a nossa Saudade.E já são tantas as cruzes que assinalam aqueles que partiram para sempre!No almoço da Fraternidade encontrámo-nos com os vivos e nos abraços, sentidos e apertados, podemos expressar a alegria do reencontro de gente a quem estamos profundamente ligados pelo coração.Como sempre é um sentimento de amargo e doce revê-los:
os meus meninos imberbes, a quem dei a recruta, no ano distante de 1966, no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa ! Os anos embranquecerem e devastarem-lhes os cabelos, que tantas vezes mandei “rapar à éca”!
As rugas que o suor lhes cavou nas faces, de uma vida de trabalho, atestam porque são Homens de Bem.Vejo-os chegar, de braços abertos:
são Homens de corpo inteiro, acompanhados pelas esposas, filhos e netos, também eles pedaços ambulantes da minha Família e… perdoem-me a vaidade, comungo da sua alegria e do seu sucesso, nesta jornada de Fraternidade daqueles que passaram e viveram juntos tantos perigos, tantas noites de vigília, fomes, secas e sedes, medos e solidariedades do ter que ter coragem, do ter que ir em frente, apenas com a generosidade de quem tem vinte anos.O seu sucesso, também é o meu sucesso!E quando um deles, na hora da despedida, me dá um abraço “como se abraçasse o meu falecido pai”, eu sinto um Orgulho enorme, que está muito para além dos louvores, das medalhas, que não tive, e das muitas injustiças de que a vida militar me foi tão pródiga:
e ficam-me os olhos rasos de água!Então, encho o peito de ar e como faziamos no "trilho", no tempo da Guerra, é sempre imperioso seguir em frente:- Está a andar! Passa palavra!
Sem comentários:
Enviar um comentário